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Agronegócios

Mitos do agro não resistem à informação correta, analisa Xico Graziano


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Noutro dia, eu estava lendo uma entrevista com o ator-sitiante Marcos Palmeira. Lá pelas tantas, ao defender sua produção orgânica de hortaliças, realizada em Teresópolis (RJ), ele afirma: “Quem bota comida na nossa mesa é a agricultura familiar”.

É incrível verificar como esse mito da agricultura nacional se transformou num verdadeiro mantra, repetido sem qualquer senão. Em nosso livro “Agricultura, fatos e mitos”, já comprovamos ser falsa a informação de que 70% dos alimentos do Brasil vêm dos agricultores familiares. Nunca ninguém achou a base técnica dessa conta.

Agora, com a divulgação completa do novo Censo Agropecuário, realizado em 2017 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), novos dados, concretos e específicos, foram oferecidos aos estudiosos da questão agrária. Pode-se, assim, precisamente aquilatar a real participação do estrato familiar na produção agropecuária do Brasil.

Para ilustrar ao ator Marcos Palmeira, que além do talento, o admiro pela simplicidade, vamos pegar o caso específico do feijão, símbolo da comida verde-amarela. O Censo Agropecuário permite analisar a produção rural nos 4 tipos de feijão: preto; de cores; fradinho (de corda); e verde.

Conforme indica o censo, em cada tipo a produção familiar responde por:

  • Feijão preto – 41,8%;
  • Feijão de cores – 11,6%;
  • Feijão fradinho – 34,4%;
  • Feijão verde – 55,6%.

Considerando-se a produção total, a agricultura familiar responde, na média ponderada, por 23,1% de todo feijão produzido no país. Na lavoura de feijão de cores (variedade carioca, principalmente), que representa 58,4% da colheita do grão do país, a agricultura empresarial, tecnológica e de escala domina quase 88% da produção.

O fato é incontestável. O último Censo Agropecuário derruba totalmente o mito de que os pequenos produtores dominam a produção de alimentos, cabendo aos grandes, por corolário, a responsabilidade das commodities.

No passado, poderia ser. Mas a modernização do agro mudou o status da produção de feijão, retirando-o da economia de subsistência e transformando-o em setor fortemente capitalista. Foi exatamente essa evolução tecnológica que permitiu abastecer o prato de feijão dos milhões que passaram a habitar as metrópoles.

Outra informação curiosa, boa para Marcos Palmeira refletir naquelas suas horas sumidas no sítio de Teresópolis: o Censo Agropecuário indica que a agricultura familiar lidera, de longe, a fumicultura no país. Sim. Os agricultores familiares respondem por 94% da produção nacional de tabaco.

O ator-sitiante Marcos Palmeira deve estar surpreso. Segundo a narrativa por ele adotada, era para ser ao contrário: a comida deveria vir dos pequenos e o fumo, dos grandes. Mas a realidade agrária não funciona mais assim.

O exemplo do feijão e de seu contraponto, o fumo, atesta como a informação –precisa, factual, referenciada– é importante para enfrentar os mitos sobre o agro. Não precisa brigar, nem xingar, nem entrar na rixa ideológica.

Basta informar corretamente.

Poder360.com.br

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